Texto V, para responder às questões de 52 a 54.
O trabalho na sociedade capitalista contemporânea tem assumido diversos sentidos para os trabalhadores, ora oferecendo condições emancipadoras, ora escravizantes.
Nesse contexto, muitas vezes, o psíquico é envolvido no jogo e na trama da dominação social, associada às leis da racionalidade econômica, refletidas nos princípios da produtividade, da flexibilidade e do consumo, levando os
trabalhadores a não ter saídas, prevalecendo a sujeição no lugar da resistência e da emancipação.
A sobrevivência, a segurança, o poder, como dimensões da condição humana, influenciam fortemente essa sujeição. Dessa condição também faz parte a busca pelo prazer e pelo reconhecimento, uma vez que esses fatores se articulam com a estruturação psíquica e social dos sujeitos. Tais fatores também são importantes para a conquista da emancipação, experiência que tem sido bloqueada em função das atuais condições de precariedade oferecidas pelo mundo do trabalho flexibilizado.
Utilizando a psicodinâmica do trabalho como abordagem teórica para explicar o prazer e o reconhecimento, torna-se central considerar a organização do trabalho. É a organização do trabalho que coloca em evidência e em risco essas dimensões da condição humana, patrocinando o jogo entre a servidão e a emancipação do sujeito.
A organização do trabalho produz um jogo de forças contraditórias que operam sobre o trabalhador, levando-o às mais diversas soluções de compromissos.
Essas contradições são vivenciadas quando entram em confronto o desejo do sujeito, expresso nas necessidades, aspirações e interesses e a realidade de trabalho, geralmente, marcada pelo produtivismo, desempenho e excelência. Um exemplo de contradições muito presente nas relações de trabalho hoje é o "fazer mais versus fazer bem". As exigências das organizações, muitas vezes, sem as condições necessárias à execução das tarefas, levam os trabalhadores a negligenciar a qualidade em nome da quantidade. Outros exemplos são "trabalhar em equipe versus trabalhar sozinho"; "atender a normas em que não se acredita versus perder o emprego"; "cooperar versus sobrecarregar-se"; "denunciar práticas das quais se discorda versus silenciar".
Essas contradições, na maioria das vezes, favorecem a rivalidade entre os colegas, a competição e o individualismo, tendo em vista as estratégias de gestão utilizadas, como os sistemas individualizados de avaliação de desempenho. Especificamente, podem ser consideradas modos perversos de organização do trabalho, expressos em situações provocadoras de contradições, tais como a gestão pelo controle, medo, pressão, desconfiança, insegurança e pela sedução e promessa do "paraíso perdido", usando a busca pelo prazer e pelo reconhecimento como armas para essa sedução; normas sem limites ou muito padronizadas; poder autocrático ou permissivo; comunicação sem visibilidade, paradoxal, restrita; discurso de transparência, ética e responsabilidade social, foco na produção, ideologia da excelência; metas inatingíveis, desqualificando o sentido psíquico e social do trabalho.
Quando a organização do trabalho é saudável, oferecendo oportunidades para negociação, ou seja, se existe uma margem de liberdade para o trabalhador ajustar a realidade de trabalho aos seus desejos e necessidades e as relações socioprofissionais são abertas, democráticas e justas, é possível o processo de reconhecimento, prazer e transformação do sofrimento.
Entretanto, quando impera a impossibilidade de negociação, tornam-se mais problemáticas a superação do sofrimento e a resistência dos trabalhadores. A evolução, frequência e características desse sofrimento mal enfrentado, com o passar do tempo, podem traduzir-se em comportamentos patológicos, como a violência no trabalho e as práticas de assédio moral. Nesse sentido, é necessário que o sofrimento provocado nos trabalhadores em decorrência das contradições da organização do trabalho seja desvelado, com o objetivo de identificar-se o mal que o gerou, à medida que foi disfarçado até o momento em que se transformou em sofrimento.
O texto V permite identificar que