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Maneira de amar
O jardineiro conversava com as flores, e elas
se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando
coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava
um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou
porque não fosse homem bonito, ou porque os
girassóis são orgulhosos de natureza.
Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as
graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a
luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma
situação bastante embaraçosa, que as outras flores
não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro
deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a
terra, na ocasião devida.
O dono do jardim achou que seu empregado
perdia muito tempo parado diante dos canteiros,
aparentemente não fazendo coisa alguma. E
mandou-o embora, depois de assinar a carteira de
trabalho.
Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram
tristes e censuravam-se porque não tinham induzido
o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas
era o girassol, que não se conformava com a
ausência do homem. "Você o tratava mal, agora está
arrependido?" "Não, respondeu, estou triste porque
agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de
amar, ele sabia disso, e gostava."
(ANDRADE, Carlos Drummond. . Rio de Janeiro: Record, 1997. p. 30).
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