Texto
Por que é tão difícil entender?
A crise que o país atravessa desde a eclosão dos primeiros
protestos contra o aumento das passagens de ônibus têm três
componentes articulados:
1 – A sociedade quer transporte, saúde e educação de
qualidade, pois ela paga caro por isso, por meio de impostos, e
não recebe em troca serviços públicos à altura. Simples assim. A
sociedade não pediu nas ruas reforma política, nem plebiscito
para eliminar suplente de senador.
2 – A sociedade quer o fim da impunidade, pois está cansada
de ver corruptos soltos debochando de quem é honesto, mesmo
depois de condenados. Acrescentar o adjetivo hediondo à
corrupção de pouco adianta se deputados e ministros continuam
usando aviões da FAB para passear e se criminosos estão soltos,
alguns até ocupando cargos de liderança ou participando de
comissões no Congresso.
3 – A sociedade quer estabilidade econômica: para a
percepção do cidadão comum, os 20 centavos pesaram como
mais um sinal de que a economia está saindo do controle. A
percepção do aumento da inflação é crescente em todas as
classes sociais; em última análise, este será o fator determinante
dos rumos da crise a médio prazo, já que não há discurso ou
propaganda que camufle a corrosão do poder de compra das
pessoas, sobretudo daquelas recentemente incorporadas à
economia formal.
Esses problemas não são de agora, nem responsabilidade
exclusiva dos últimos governos. Mas o que se espera de quem
está no poder é que compreenda que a melhor maneira de
reconquistar o apoio perdido é dar respostas concretas e rápidas
às demandas feitas nas ruas (e não às questões que ninguém fez).
(Adaptado. Luciano Trigo, O Globo, 11‐7‐2013)
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