Atenção: Considere o texto abaixo para responder às questões
de números 1 a 8.
O que me moveu, inicialmente, a fazer este texto foi
uma sensação produzida por uma viagem ao Havaí. Sensação
de que se é parte de um cenário. Na praia de Waikiki, os hotéis
têm lobbies que se comunicam, pontuados por belíssimos (mas
falsos) jardins tropicais, sem uma folha no chão, lagos com peixes
coloridos, tochas, belos gramados e, evidentemente, muitas
lojas. Um filme de Elvis Presley.
Honolulu é um dos milhares de exemplos a que podemos
recorrer. A indústria do turismo cria um mundo fictício de
lazer, onde o espaço se transforma em cenário e, desse modo,
o real é transfigurado para seduzir e fascinar.
O espaço produzido pela indústria do turismo é o presente
sem espessura, sem história, sem identidade. O lugar é,
em sua essência, produção humana, visto que se transforma
na relação entre espaço e sociedade. O sujeito pertence ao lugar
como este a ele. A indústria turística produz simulacros de
lugares.
Mas também se produzem modos de apropriação dos
lugares. A indústria do turismo produz um modo de estar em
Nova York, Paris, Roma, Buenos Aires... É evidente que não se
pode dizer que essas cidades sejam simulacros, pois é claro
que não o são; entretanto, o pacote turístico ignora a identidade
do lugar, sua história e modo de vida, banalizando-os.
Os pacotes turísticos tratam o turista como mero consumidor,
delimitando o que deve ou não ser visto, além do tempo
destinado a cada atração, num incessante "veja tudo depressa".
Essa rapidez impede que os olhos desfrutem da paisagem.
Passa-se em segundos por séculos de civilização, faz-se
tábula rasa da história de gerações que se inscrevem no tempo e
no espaço. Num autêntico tour de force consentido, pouco espaço
é destinado à criatividade. Por sua vez, o turista vê sufocar
um desejo que nem se esboçou, o de experimentar.
No fim do caminho, o cansaço; o olhar e os passos medidos
em tempo produtivo, que aqui se impõe sem que disso as
pessoas se deem conta. Não cabem passos lentos, olhares perdidos.
O lazer produz a mesma rotina massacrante, controlada
e vigiada que o trabalho.
Como indústria, o turismo não parece criar a perspectiva
do lazer como possibilidade de superação das aliena-
ções do cotidiano. Só a viagem como descoberta, busca do novo,
abre a perspectiva de recomposição do passo do flâneur,
daquele que se perde e que, por isso, observa. Walter Benjamin
lembra que "saber orientar-se em uma cidade não significa
muito. No entanto, perder-se numa cidade, como alguém se
perde numa floresta, requer instrução".
(Adaptado de Ana Fani Alessandri Carlos. Disponível em:
http://www.cefetsp.br/edu/eso/lourdes/turismoproducaona
olugar.html)