Para responder às questões de 1 a 5, leia o texto abaixo.
Busca pela vida em águas profundas em Santos
O navio de pesquisa oceanográfica japonês
Yokosuka chegou ontem ao Porto de Santos, com o
submarino Shinkai 6500 e um grupo de cientistas brasileiros
a bordo, marcando assim o fim de uma expedição de duas
semanas sobre o Platô de São Paulo, com mergulhos que
chegaram a 3.600 metros de profundidade.
E a grande descoberta da expedição, imagine só, foi
não ter descoberto quase nada. Foi a primeira vez que
cientistas mergulharam a grandes profundidades nessa
região, e a escassez de vida surpreendeu tanto os
pesquisadores japoneses quanto os brasileiros. "A
expectativa era encontrar grandes concentrações de vida,
mas infelizmente nada disso foi localizado", contou ao
Estado o cientista chefe da expedição, Katsunori Fujikura, da
Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia da Terra e do Mar
(Jamstec). A expectativa baseava-se no fato de que, do
ponto de vista geológico, o Platô de São Paulo (onde fica a
Bacia de Santos) é muito parecido com o Golfo do México,
onde há também muitas reservas de petróleo, gás, e uma
grande concentração de ecossistemas quimiossintéticos,
que é o que os biólogos esperavam encontrar por aqui
também. "Foi uma surpresa para nós. Por que será que há
tão pouca vida aqui? Esse será o escopo das pesquisas a
partir de agora", completou Fujikura.
Ecossistemas quimiossintéticos são ambientes de
grande profundidade associados a falhas no assoalho
oceânico, nos quais a fonte primária de energia para a vida
não é a fotossíntese, como realizada pelas plantas na
superfície, mas o metabolismo de elementos químicos
inorgânicos (como metano e enxofre) realizado por microorganismos
especialmente adaptados a condições extremas
de temperatura e pressão, que acabam dando suporte à
vida de vários organismos maiores, incluindo moluscos,
crustáceos e peixes. Há dois tipos principais desses
ambientes: as fumarolas de água quente e as exsudações de
água fria, que é o que os pesquisadores esperavam
encontrar no Platô de São Paulo.
A viagem de duas semanas, entre Rio e São Paulo,
foi a segunda pernada de uma expedição iniciada cerca de
um mês atrás, dentro de uma parceria entre a Jamstec, o
Instituto Oceanográfico da USP e o Serviço Geológico do
Brasil (CPRM), envolvendo pesquisadores de várias
instituições brasileiras e japonesas. Na primeira pernada
foram realizados sete mergulhos de até 4.200 metros de
profundidade nas regiões da Elevação do Rio Grande e da
Dorsal de São Paulo. Agora, na segunda pernada, foram
nove mergulhos de até 3.600 metros no Platô de São Paulo
(estavam previstos 10 mergulhos, mas o último teve de ser
cancelado por questões meteorológicas).
Nenhum ambiente quimiossintético foi encontrado,
e a quantidade de animais maiores observados também foi
pequena — diferentemente do que foi observado nos
mergulhos da primeira pernada. "Apesar de serem todos da
mesma região, os três locais têm biodiversidades distintas",
observou Fujikura. "Aqui não vimos animais de grande porte
e a quantidade de vida era muito menor."
O que não significa que a expedição tenha sido um
fracasso, nem que não existam ecossistemas
quimiossintéticos no Platô de São Paulo, segundo a
pesquisadora Vivian Pellizari, do Instituto Oceanográfico da
USP. "O que nós vimos foi uma parte muito pequena do
platô", destaca ela. "É impossível que numa área enorme
como essa, com todo o petróleo que sabemos ter aqui, não
haja nenhum escape de gás, nenhuma exsudação fria, como
há no Golfo do México. Temos de continuar procurando; é
uma agulha no palheiro."
Mesmo sem ter encontrado nenhum ambiente
quimiossintético, os cientistas vão voltar para casa com uma
grande quantidade de dados e amostras, suficiente para
muitos anos de pesquisa. Dezenas de amostras de água,
sedimentos e animais de águas profundas foram coletadas,
incluindo caranguejos, camarões, mexilhões, esponjas,
pepinos e estrelas do mar. "É bem possível que tenhamos
espécies novas nessas amostras", diz o biólogo Angelo
Bernardino, da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES), que fez um mergulho com o Shinkai a 2.800 metros
de profundidade. "Acho que vão aparecer coisas muito
interessantes nas análises."
Vivian e Bernardino destacam que o Atlântico Sul
nunca havia sido prospectado cientificamente dessa
maneira, e foi a primeira vez que cientistas brasileiros
tiveram oportunidade de descer a essas profundidades na
costa brasileira. "Foi uma oportunidade única para a ciência
do Brasil", disse Vivian, ressaltando que várias instituições
do País, de vários Estados, vão receber amostras coletadas
na expedição para pesquisa. "Apesar de a biodiversidade
observada ter sido bem menor do que esperávamos, o
desafio será maior ainda agora para explicar esses
resultados", avaliou a bióloga. "É a primeira vez que
coletamos esse tipo de dado no Brasil; então, toda
informação que pudermos extrair deles será muito
importante."
As amostras de água e sedimento, por exemplo,
serão minuciosamente analisadas quimicamente e
geneticamente para entender que elementos e microorganismos
estão presentes nesses ambientes.
(Disponível em www.estodoo.com.br)