SEM SOLUÇÃO
Carlos Heitor Cony – Folha de São Paulo
Foi melancólico o 1º de Maio deste ano. Não tivemos a
tragédia do Riocentro, que até hoje não foi bem explicada e, para
todos os efeitos, marcou o início do fim da ditadura militar.
Tampouco ressuscitamos o entusiasmo das
festividades, os desfiles e a tradicional arenga de um ditador que,
durante anos, começava seus discursos com o famoso mantra:
"Trabalhadores do Brasil".
De qualquer forma, era um pretexto para os governos
de plantão forçarem um clima de conciliação nacional, o salário
mínimo era aumentado e, nos teatros da praça Tiradentes, havia
sempre uma apoteose patriótica com os grandes nomes do
rebolado agitando bandeirinhas nacionais. Nos rádios, a trilha
musical era dos brados e hinos militares, na base do "avante
camaradas".
Este ano, a tônica foram as vaias que os camaradas
deram às autoridades federais, estaduais e municipais. Com os
suculentos escândalos (mensalão, Petrobrás e outros menos
votados), as manifestações contra os 12 anos de PT, que
começaram no ano passado, só não tiveram maior destaque
porque a mídia deu preferência mais que merecida aos 20 anos
da morte do nosso maior ídolo esportivo.
Depois de Ayrton Senna, o prestígio de nossas cores
está em baixa, a menos que Paulo Coelho ganhe
antecipadamente o Nobel de Literatura e Roberto Carlos dê um
show no Teatro alla Scala, em Milão, ou no Covent Garden, em
Londres.
Sim, teremos uma Copa do Mundo para exorcizar o gol
de Alcides Gighia, na Copa de 1950, mas há presságios sinistros
de grandes manifestações contra o governo e a FIFA, que de
repente tornou–se a besta negra da nossa soberania.
A única solução para tantos infortúnios seria convidar o
papa Francisco para apitar a final do Mundial, desde que Sua
Santidade não roube a favor da Argentina.
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